Massacre do Carandiru: a chacina que marcou a história do Brasil

 

 

No dia 2 de outubro de 1992, o pavilhão 9 da Casa de Detenção Carandiru foi o cenário de um dos episódios mais sangrentos da história penitenciária mundial. 30 anos depois, o caso ainda é alvo de controvérsia. De um lado, o chefe da operação diz que agiu no estrito cumprimento do dever. Do outro, grupos de direitos humanos acreditam que houve intenção de exterminar os presos e reclamam que ninguém foi punido. Conheça os detalhes de um dia que já virou livro, filme, série de TV e entrou para a história.

 

 

10:00

Enquanto, no pátio, rola uma partida de futebol, 2 detentos (Barba e Coelho) começam a brigar dentro do pavilhão. Logo, os presos se dividem em 2 grupos rivais e a briga se espalha pelos andares.

14:00

A rebelião já está instalada e todos os carcereiros já abandonaram o local. Há fogo do lado de dentro, mas não há reivindicações por parte dos presos. O chefe da Casa de Detenção pede reforços da PM.

15:30

Chamados pelo diretor da Casa de Detenção, cerca de 320 policiais estacionam fora do pavilhão 9. Entre eles, homens de batalhões de elite como Rota, Gate, 30 Choque e Cavalaria, além de alguns bombeiros. O diretor do presídio, Ismael Pedrosa, tenta uma última negociação. Do lado de dentro, a confusão está instaurada.

16:00

Grupos de direitos humanos alegam que os presos decidem pôr fim à rebelião e que muitos entregam as armas. A versão da polícia diz que as armas estavam sendo atiradas pelas janelas contra os policiais.

16:30

A polícia rompe a barricada e entra no pavilhão. O cel. Ubiratan diz que 86 homens participaram da operação. A promotoria diz que eram mais de 300 – a maioria sem os crachás de identificação.

16:45

No térreo, a situação é controlada facilmente. A defesa de Ubiratan alegou que ele foi atingido por uma explosão ao tentar subir para o 10º andar e levado ao hospital, ficando fora da operação.

16:50

No 1º andar, policiais encontram nova barricada, com um preso morto pendurado de cabeça para baixo. 26 homens teriam sido assassinados neste piso, segundo a perícia.

17:00 – Versão da polícia

Centenas de presos preparam uma tocaia. Policiais são recebidos com facadas, estiletes sujos de sangue contaminado, sacos cheios de fezes e urina, e tiros. Atiram para se proteger. Segundo Ubiratan, se houvesse intenção de exterminar os presos, muitos outros teriam morrido. “Só morreu quem entrou em confronto com a polícia”, disse à Super. A perícia concluiu que apenas 26 foram mortos fora da cela.

17:00 – Versão dos presos

Os detentos haviam se rendido e estavam dentro das celas desarmados. “As trajetórias dos projéteis disparados indicavam atirador(es) posicionado(s) na soleira das celas, apontando suas armas para os fundos ou laterais”, diz o laudo do Instituto de Criminalística. A perícia também concluiu que 70% dos tiros foram dirigidos à cabeça e ao tórax, o que reforça a ideia de extermínio. Para escapar com vida, presos se misturaram aos colegas mortos.

17:30

A perícia não encontrou indícios de confronto no 3º e 4º andares, o que reforça a teoria de que o enfrentamento entre polícia e presos se deu principalmente nos pisos inferiores.

18:00

Policiais mandam que os presos tirem a roupa e desçam para o pátio interno. Grupos de direitos humanos alegam que muitos foram executados durante essa operação.

19:00

Presos são escalados para carregar os corpos até o 1º andar, onde são empilhados, modificando o cenário do episódio e dificultando as conclusões da perícia.

Os personagens

Quem são as autoridades que acabaram entrando para a história como personagens principais do massacre

Pedro Franco de Campos

Era secretário de Segurança Pública do estado e foi exonerado após o massacre. Não estava no local, mas autorizou a invasão do pavilhão 9, desde que houvesse consenso entre as autoridades presentes sobre a ação.

José Ismael Pedrosa

Era diretor da Casa de Detenção. Após o episódio, foi afastado do cargo. Foi ele quem acionou a PM, depois que a rebelião havia sido deflagrada.

Cel. Ubiratan Guimarães

Era comandante de Policiamento Metropolitano da PM e chefiou a invasão. Foi julgado e condenado, mas aguarda em liberdade seu pedido de recurso. Foi eleito deputado estadual, em 2002.

Pavilhão 9

A rebelião tomou conta de quase todo o pavilhão, mas os pisos mais afetados foram os inferiores. A área representada no infográfico acima é a que aparece colorida no esquema à direita.

O massacre em números

  • 8 presos mortos. Foi o que a polícia divulgou no dia, véspera de eleição.
  • 111 presos mortos (é o número oficial, apesar de ex-detentos insistirem em mais de 200).
  • 103 vítimas de disparos.
  • 8 vítimas de objetos cortantes.
  • 0 policial morto.
  • 130 detentos feridos.
  • 23 policiais feridos.
  • 515 tiros disparados.
  • 120 policiais indiciados.
  • 86 policiais julgados.
  • 1 policial condenado (cel. Ubiratan).
  • 632 anos de prisão foi a sentença.

MORTOS NO MASSACRE

  1. Adalberto Oliveira dos Santos
  2. Adão Luiz Ferreira de Aquino
  3. Adelson Pereira de Araujo
  4. Alex Rogério de Araujo
  5. Alexandre Nunes Machado da Silva
  6. Almir Jean Soares
  7. Antonio Alves dos Santos
  8. Antonio da Silva Souza
  9. Antonio Luiz Pereira
  10. Antonio Quirino da Silva
  11. Carlos Almirante Borges da Silva
  12. Carlos Antonio Silvano Santos
  13. Carlos Cesar de Souza
  14. Claudemir Marques
  15. Claudio do Nascimento da Silva
  16. Claudio José de Carvalho
  17. Cosmo Alberto dos Santos
  18. Daniel Roque Pires
  19. Dimas Geraldo dos Santos
  20. Douglas Edson de Brito
  21. Edivaldo Joaquim de Almeida
  22. Elias Oliveira Costa
  23. Elias Palmiciano
  24. Emerson Marcelo de Pontes
  25. Erivaldo da Silva Ribeiro
  26. Estefano Mard da Silva Prudente
  27. Fabio Rogério dos Santos
  28. Francisco Antonio dos Santos
  29. Francisco Ferreira dos Santos
  30. Francisco Rodrigues
  31. Genivaldo Araujo dos Santos
  32. Geraldo Martins Pereira
  33. Geraldo Messias da Silva
  34. Grimario Valério de Albuquerque
  35. Jarbas da Silveira Rosa
  36. Jesuino Campos
  37. João Carlos Rodrigues Vasques
  38. João Gonçalves da Silva
  39. Jodilson Ferreira dos Santos
  40. Jorge Sakai
  41. Josanias Ferreira de Lima
  42. José Alberto Gomes pessoa
  43. José Bento da Silva
  44. José Carlos Clementino da Silva
  45. José Carlos da Silva
  46. José Carlos dos Santos
  47. José Carlos Inojosa
  48. José Cícero Angelo dos Santos
  49. José Cícero da Silva
  50. José Domingues Duarte
  51. José Elias Miranda da Silva
  52. José Jaime Costa e Silva
  53. José Jorge Vicente
  54. José Marcolino Monteiro
  55. José Martins Vieira Rodrigues
  56. José Ocelio Alves Rodrigues
  57. José Pereira da Silva
  58. José Ronaldo Vilela da Silva
  59. Josue Pedroso de Andrade
  60. Jovemar Paulo Alves Ribeiro
  61. Juares dos Santos
  62. Luiz Cesar leite
  63. Luiz Claudio do Carmo
  64. Luiz Enrique Martin
  65. Luiz Granja da Silva Neto
  66. Mamed da Silva
  67. Marcelo Couto
  68. Marcelo Ramos
  69. Marco Antonio Avelino Ramos
  70. Marco Antonio Soares
  71. Marcos Rodrigues Melo
  72. Marcos Sérgio Lino de Souza
  73. Mario Felipe dos Santos
  74. Mario Gonçalves da Silva
  75. Mauricio Calio
  76. Mauro Batista Silva
  77. Nivaldo Aparecido Marques de Souza
  78. Nivaldo Barreto Pinto
  79. Nivaldo de Jesus Santos
  80. Ocenir Paulo de Lima
  81. Olivio Antonio Luiz Filho
  82. Orlando Alves Rodrigues
  83. Osvaldino Moreira Flores
  84. Paulo Antonio Ramos
  85. Paulo Cesar Moreira
  86. Paulo Martins Silva
  87. Paulo Reis Antunes
  88. Paulo Roberto da Luz
  89. Paulo Roberto Rodrigues de Oliveira
  90. Paulo Rogério Luiz de Oliveira
  91. Reginaldo Ferreira Martins
  92. Reginaldo Judici da Silva
  93. Roberio Azevedo da Silva
  94. Roberto Alves Vieira
  95. Roberto Aparecido Nogueira
  96. Roberto Azevedo Silva
  97. Roberto Rodrigues Teodoro
  98. Rogério Piassa
  99. Rogério Presaniuk
  100. Ronaldo Aparecido Gasparinio
  101. Samuel Teixeira de Queiroz
  102. Sandoval Batista da Silva
  103. Sandro Rogério Bispo
  104. Sérgio Angelo Bonane
  105. Tenilson Souza
  106. Valdemir Bernardo da Silva
  107. Valdemir Pereira da Silva
  108. Valmir Marques dos Santos
  109. Valter Gonçalves Gaetano
  110. Vanildo Luiz
  111. Vivaldo Virculino dos Santos

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