Cidra, Porto Rico – 7 de dezembro de 2021
Faltavam 11 minutos para a meia-noite quando o som de mais de 200 tiros rasgou a tranquilidade do bairro Certenejas, no centro de Cidra. O que era uma festa de aniversário em frente ao “La Lomita”, um pequeno comércio de esquina, transformou-se em minutos num dos massacres mais brutais já registrados em Porto Rico.
Cinco homens foram executados a sangue frio. Outros ficaram gravemente feridos. Tudo foi gravado pelas câmeras de segurança do estabelecimento e o vídeo, que vazou dias depois, chocou o país inteiro: pistoleiros descem de um carro, disparam rajadas de fuzil, aproximam-se das vítimas caídas no chão e dão o tiro de misericórdia na cabeça, um por um, sem pressa.
As vítimas
- Jonathan O’Neill Ortiz Castrodad, 27 anos, conhecido como “Ónix” – o alvo principal, um dos nomes mais quentes da polícia local por envolvimento em assassinatos recentes.
- Andrés Manuel Bonilla Rivera, 38 anos
- Sebastián Figueroa Camacho, 28 anos, “Wason”
- José M. Delgado Rivers, 24 anos
- Bryan Álvarez Carrión, 24 anos – morreu no hospital no dia seguinte, elevando o número de mortos para cinco.
Todos tinham algum grau de envolvimento com o tráfico de drogas na região montanhosa de Cidra, Caguas e Cayey. A polícia classificou o ataque como retaliação: dias antes, o grupo de “Ónix” havia matado um rival da quadrilha adversária.
O cérebro do massacre
Nelson Torres Delgado, 35 anos, apelidado de “El Burro”, foi apontado como o mandante. Chefe de uma organização que disputava o controle do ponto de droga em Certenejas, ele ordenou a execução para eliminar a concorrência. Fugiu logo após o crime, mas acabou preso em 2023 numa operação conjunta do FBI e da polícia porto-riquenha. Em 2024 se declarou culpado nos Estados Unidos e pegou 25 anos de prisão federal.
A reação imediata
Na manhã seguinte, o governador Pedro Pierluisi apareceu na televisão e chamou o ataque de “barbárie pura”. Reforçou o destacamento policial na zona central da ilha e prometeu que “ninguém ficaria impune”. A polícia recolheu mais de 200 casquilhos de bala calibre 5.56 e 9 mm e encontrou dois carros usados pelos pistoleiros, ambos roubados e incendiados horas depois.
A população de Cidra, uma cidade pacata de pouco mais de 40 mil habitantes, ficou em choque. Escolas fecharam, comércios baixaram as portas e as missas lotaram pedindo paz.
O massacre de Cidra entrou para a história como a 11ª masacre de 2021 – o ano mais violento da década em Porto Rico. Serviu de estopim para uma série de operações que desarticularam parte das gangues da região central. Os homicídios em Cidra caíram quase 70% desde então.
Em 2023 foi inaugurado um pequeno memorial no local do crime, com cinco cruzes brancas e uma placa que diz simplesmente: “Aqui a violência tentou calar cinco vidas. Não conseguiu.”
Mesmo assim, a ferida ainda sangra. Em 2025, com a economia ainda se recuperando dos furacões e da pandemia, jovens continuam sendo recrutados pelo tráfico. O vídeo do massacre, apesar de removido das grandes plataformas, ainda circula em grupos de WhatsApp e Telegram como “exemplo” de como se resolve “dívida” no mundo do crime.
Cidra nunca mais foi a mesma. A festa de aniversário acabou em tiros, mas a cidade escolheu responder com memória, vigilância e a esperança teimosa de que um dia as noites voltem a ser apenas de música e bolo, sem rajadas de fuzil.





