Em julho de 2005, um incidente bizarro e fatal em uma fazenda isolada no estado de Washington, nos Estados Unidos, chocou o mundo e expôs um submundo secreto de práticas extremas. Conhecido como o “Caso Enumclaw de Sexo com Cavalo”, o evento envolveu zoofilia, morte acidental e a circulação de um vídeo perturbador que se tornou infame na internet sob títulos como “2 Guys 1 Horse” ou “Mr. Hands”. O que começou como uma atividade clandestina entre um grupo de homens terminou em uma tragédia que mudou leis e gerou debates sobre limites éticos e legais. Esta matéria reconta os detalhes completos dessa história, desde os antecedentes até o impacto duradouro.
Antecedentes: Um Submundo Online e Práticas Extremas
O centro da história é Kenneth Pinyan, um engenheiro de 45 anos que trabalhava na Boeing, uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo. Morador de Gig Harbor, uma cidade tranquila próxima a Seattle, Pinyan levava uma vida aparentemente normal: era divorciado, tinha filhos e havia servido no Exército. No entanto, por trás dessa fachada, ele se envolvia em atividades sexuais extremas. Após um acidente de moto que afetou suas sensações físicas, Pinyan começou a buscar experiências cada vez mais intensas, incluindo o uso de dildos grandes, fisting e, eventualmente, sexo com animais.
No início dos anos 2000, Pinyan se juntou a um grupo online de homens autodenominados “zoos” – um termo usado por zoófilos para descreverem sua atração sexual por animais. Esses indivíduos se reuniam em fóruns e chats privados na internet para compartilhar experiências e planejar encontros. O grupo de Pinyan se encontrava em uma fazenda de 40 acres em uma área não incorporada do Condado de King, a cerca de 5 milhas a noroeste de Enumclaw, uma pequena cidade rural conhecida por sua tranquilidade e proximidade com o Monte Rainier.
A fazenda pertencia a um homem não identificado publicamente, mas era usada por James Michael Tait, um caminhoneiro que morava em um trailer próximo. Tait e outros participantes treinavam cavalos para essas atividades, usando técnicas como aplicar feromônios de reprodução equina e posicionar-se de forma a facilitar o ato. Pinyan, sob o pseudônimo “Mr. Hands”, filmava e distribuía pornografia zoófila online, incluindo vídeos com um garanhão chamado Strut – do qual ele até criou um molde do pênis para uso pessoal. Esses encontros não se limitavam a animais; os homens também se envolviam sexualmente uns com os outros, gravando tudo para distribuição na rede.
O Incidente Fatal: Uma Noite em Julho de 2005
O ponto culminante ocorreu na noite de 2 de julho de 2005. Pinyan, Tait e um terceiro homem não identificado invadiram o celeiro da fazenda para uma sessão de zoofilia. Primeiro, Tait foi penetrado analmente por um garanhão apelidado de “Big Dick”, enquanto Pinyan ou o outro homem filmava. Em seguida, foi a vez de Pinyan, que recebeu sexo anal do mesmo cavalo. O ato resultou em lesões graves: o pênis do animal perfurou o cólon de Pinyan, causando uma ruptura interna.
Ferido, Pinyan foi levado anonimamente por seus companheiros ao Enumclaw Community Hospital, onde chegou em estado crítico. Ele morreu horas depois de peritonite aguda – uma infecção abdominal grave causada pela perfuração – combinada com choque hemorrágico. A morte foi classificada como acidental pelas autoridades médicas. O cavalo não sofreu ferimentos, e não houve evidências de abuso animal intencional. Esses encontros haviam acontecido várias vezes antes, mas essa foi a primeira com consequências fatais.
A Investigação: Descobrindo um Arquivo de Horrores
A polícia foi alertada pela equipe do hospital, que notou as lesões incomuns no corpo de Pinyan. Usando a carteira de motorista dele, os investigadores rastrearam conhecidos e parentes, o que os levou à fazenda. Lá, eles confiscaram mais de 100 fitas VHS e DVDs, totalizando centenas de horas de gravações que mostravam homens, incluindo Pinyan, engajados em atos de bestialidade com cavalos e outros animais.
A fazenda era conhecida em círculos zoófilos online como um local seguro para essas práticas. Câmeras de vigilância e contatos ajudaram a identificar participantes, mas o foco inicial foi em Tait, que morava próximo e facilitava os acessos. Não havia provas de que os donos da propriedade soubessem das atividades, o que limitou as acusações. Importante: na época, a bestialidade não era crime no estado de Washington, pois uma lei de sodomia que a criminalizava havia sido revogada em 1976.
Consequências Legais: Uma Sentença Leve e Mudanças no Horizonte
James Michael Tait foi o único acusado formalmente, por invasão de propriedade em primeiro grau. Em 29 de novembro de 2005, ele entrou com uma declaração de Alford – admitindo que havia provas suficientes para condenação, mas mantendo sua inocência factual. Tait recebeu uma sentença suspensa de um ano, uma multa de US$ 300, um dia de serviço comunitário e a ordem de nunca mais visitar a fazenda. O terceiro homem não foi acusado, pois não aparecia claramente nos vídeos.
Nenhum processo foi aberto contra Pinyan postumamente, e não houve acusações de crueldade animal, já que os animais não foram feridos intencionalmente. No entanto, o caso expôs uma lacuna legal que chocou o público.
Mudanças Legislativas: Da Legalidade à Proibição
O incidente gerou um clamor público imediato. Antes de 2005, Washington era um dos poucos estados americanos onde a bestialidade era legal. Inspirados pelo caso, legisladores, liderados pela senadora Pam Roach, propuseram o Projeto de Lei do Senado 6417. Aprovado em 11 de fevereiro de 2006, ele criou a RCW 16.52.205, tornando a bestialidade e a gravação de tais atos um crime de classe C, punível com até cinco anos de prisão.
A lei proíbe explicitamente contato sexual com animais vivos ou mortos e a produção de vídeos relacionados. Desde então, não houve relatos de prisões por bestialidade em Washington até 2015, mas o caso influenciou discussões semelhantes em outros estados.
Impacto Cultural e Midiático: De Choque Viral a Documentário
O caso ganhou notoriedade através do jornal The Seattle Times, que publicou uma reportagem detalhada, tornando-se uma das mais lidas de 2005. Inicialmente, jornais locais hesitaram em cobrir o tema devido à sua natureza grotesca, mas o interesse público forçou a divulgação.
Um vídeo da primeira interação de Pinyan com o cavalo vazou online após sua morte, circulando em sites de choque como “2 Guys 1 Horse”. Ele se tornou um “clássico” da era inicial da internet, ao lado de outros conteúdos virais perturbadores, e é conhecido por causar trauma psicológico em quem o assiste acidentalmente.
Em 2007, o documentário Zoo, dirigido por Robinson Devor, estreou no Festival de Sundance (onde foi um dos 16 vencedores entre 856 inscrições) e no Festival de Cannes. O filme explora a vida de Pinyan, sua morte e o grupo de “zoos”, sem mostrar imagens explícitas, focando em aspectos psicológicos e sociais. Ele foi elogiado por sua abordagem sensível, mas criticado por romantizar o tema.
O caso também apareceu em podcasts como The Joe Rogan Experience e reações de youtubers, perpetuando sua infâmia. Em Enumclaw, os moradores ficaram chocados e irritados; dez anos depois, em 2015, a cidade ainda evitava mencionar o incidente, temendo manchar sua reputação.
Eventos Relacionados e Legado
Em 2009, Tait se mudou para o Tennessee e foi preso novamente por crueldade animal envolvendo sexo com cavalos em uma fazenda em Maury County. Ele se declarou culpado em janeiro de 2010 e recebeu liberdade condicional. Uma mulher, Christy D. Morris, e o dono da fazenda, Kenny Thomason, também foram envolvidos. O Tennessee havia banido a bestialidade em 2007, possivelmente influenciado por casos como o de Enumclaw.
Pinyan, por sua vez, estava construindo uma casa e um celeiro em Gig Harbor para abrigar um cavalo, planejando uma vida mais integrada com suas práticas. Sua morte interrompeu isso, deixando uma família em luto e um legado de advertência.
Essa história serve como um lembrete sombrio dos perigos de comportamentos extremos e das lacunas legais que podem ser exploradas. Embora o vídeo continue circulando em cantos obscuros da web, especialistas alertam para os riscos psicológicos de consumi-lo. O Caso Enumclaw não só mudou leis, mas também destacou a necessidade de discussões abertas sobre saúde mental, sexualidade e ética animal.







