Uma história de violência e perda que abalou Pernambuco
Raíssa Sotero Rezende era uma adolescente de 14 anos, cheia de vida e sonhos, que morava em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, em Pernambuco. Estudante da Escola Municipal João Alfredo, ela era descrita por amigos e familiares como uma garota carinhosa, brincalhona e meiga, que sempre evitava brigas e conflitos. No entanto, sua vida foi tragicamente interrompida em 2019, vítima de um crime brutal que chocou o Brasil inteiro pela crueldade envolvida.
O relacionamento que mudou tudo
Tudo começou quando Raíssa se envolveu em um relacionamento com uma adolescente de 15 anos. O que parecia ser uma conexão inocente logo se transformou em algo abusivo. A parceira demonstrava ciúmes excessivos, controlava os passos de Raíssa e recorria a ameaças e violência física e psicológica. A família de Raíssa desaprovava a relação não pelo fato de ser entre duas meninas, mas pelo impacto negativo que ela causava na filha. Raíssa se afastou dos parentes, negligenciou os estudos e chegou a desaparecer por 20 dias no ano anterior, ficando com a namorada. Os pais buscaram ajuda do Conselho Tutelar e da polícia, preocupados com o comportamento da filha, mas as intervenções não foram suficientes para romper o ciclo.
O término do namoro, que durou cerca de um ano e meio, ocorreu dois meses antes do crime. Raíssa decidiu acabar com a relação, mas continuou sendo perseguida e ameaçada pela ex-namorada, que não aceitava a separação. Esse ciúme obsessivo foi apontado como a principal motivação para o que viria a seguir.
O crime na Praia de Maria Farinha
Na manhã de 25 de junho de 2019, Raíssa foi atraída para a Praia de Maria Farinha, em Paulista. Lá, ela foi atacada por duas adolescentes: a ex-namorada, de 15 anos, e outra garota de 16 anos. O que se seguiu foi uma cena de horror que durou aproximadamente duas horas. Raíssa foi espancada, torturada e esfaqueada até a morte. Para piorar, as agressoras filmaram o ato e o vídeo foi compartilhado em redes sociais, espalhando o trauma para além da cena do crime. A divulgação das imagens se tornou um crime adicional investigado pelas autoridades.
A polícia agiu rapidamente. As duas adolescentes foram apreendidas no mesmo dia e encaminhadas à Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase). Uma delas já tinha histórico de crimes, incluindo roubo e tentativa de homicídio, e cumpria medida socioeducativa em regime de semiliberdade. As investigações confirmaram o ciúme como o estopim, mas também revelaram um padrão de violência juvenil que preocupou a sociedade.
A dor da família
A notícia da morte de Raíssa devastou sua família. O pai soube do ocorrido de forma cruel: ao ver o vídeo circulando enquanto estava em uma lanchonete. Ele descreveu seu estado como “destruído por dentro” e alertou outros pais sobre os perigos de relacionamentos destrutivos na adolescência. A mãe, Gerlane Sotero, ficou inconsolável e precisou de atendimento médico no Instituto Médico Legal (IML). Ela organizou protestos e clamou por justiça, dizendo: “O que fizeram com a minha filha foi uma crueldade. Ela não merecia isso. Tinha a vida toda pela frente.”
O corpo de Raíssa foi levado ao IML no Recife e sepultado no dia seguinte, 26 de junho, no Cemitério de Santo Amaro. Amigos da escola prestaram homenagens, relembrando sua personalidade alegre e afetuosa. Em 1º de julho, familiares e amigos realizaram uma manifestação no Recife, com cartazes pedindo que as autoras do crime fossem mantidas internadas até a maioridade, quando poderiam ser transferidas para o sistema prisional adulto, como a Colônia Penal Feminina Bom Pastor.
O impacto na sociedade
O caso de Raíssa Sotero Rezende não foi apenas uma tragédia isolada; ele destacou problemas graves como relacionamentos abusivos entre adolescentes, violência de gênero e a impunidade no sistema socioeducativo. A disseminação do vídeo online ampliou o debate sobre os riscos das redes sociais e a necessidade de maior vigilância sobre conteúdos violentos. O crime repercutiu em veículos de comunicação por todo o país e inspirou discussões em podcasts e programas sobre crimes reais, servindo como alerta para pais, educadores e jovens.
Anos após o ocorrido, a memória de Raíssa continua viva como um símbolo de inocência perdida para a violência. Sua história reforça a importância de identificar sinais de abuso precoce e de apoiar vítimas antes que seja tarde demais. Em um mundo onde a adolescência deveria ser marcada por descobertas e alegrias, o destino de Raíssa lembra a todos da fragilidade da vida e da urgência em combater a crueldade.





















