Suzano, SP – Seis anos se passaram desde aquela manhã fatídica de 13 de março de 2019, mas o eco do Massacre de Suzano ainda ressoa como um alerta ensurdecedor para o Brasil. Na Escola Estadual Professor Raul Brasil, um colégio público modesto na periferia da Grande São Paulo, dois ex-alunos – Guilherme Taucci Monteiro, de apenas 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 – transformaram um ambiente de aprendizado em um campo de extermínio, matando dez pessoas e ferindo onze em um ataque brutalmente inspirado no massacre de Columbine, ocorrido duas décadas antes nos Estados Unidos. Esse evento não foi um impulso aleatório, mas o culminar de meses de planejamento obsessivo, alimentado por ódio acumulado, bullying sofrido, isolamento social e uma admiração doentia por atiradores estrangeiros que buscavam “eternizar seus nomes” na história da violência.
O Início do Horror: Antes da Escola
O dia começou como tantos outros em Suzano, uma cidade industrial de classe média baixa com cerca de 285 mil habitantes, conhecida por suas fábricas e proximidade com São Paulo. Por volta das 9h30, Guilherme e Luiz Henrique, vestidos de preto com máscaras improvisadas e mochilas pesadas, dirigiram-se primeiro a uma loja de consertos de veículos na Avenida Paulo Sá, a poucas quadras da escola. Lá, executaram o primeiro assassinato: Jorge Aparecido Monteiro, de 50 anos, tio de Guilherme e proprietário do estabelecimento familiar. Tiros à queima-roupa no peito e na cabeça serviram como “teste” cruel para as armas – dois revólveres .38, uma espingarda caseira calibre 12, facas de cozinha afiadas e um machadinho de açougueiro. Eles roubaram munição extra e prosseguiram, deixando o homem agonizante no chão enquanto clientes fugiam em pânico.
Jorge, um pai de família trabalhador e avô dedicado, tornou-se a vítima inaugural de um plano que visava superar em escala os massacres americanos. Familiares contariam depois que Guilherme, neto dele, nutria rancor profundo pelo tio, culpando-o por rigidez familiar e falta de apoio em meio a seus problemas escolares e emocionais. O crime na loja durou menos de um minuto, mas sinalizou o que viria: uma escalada de violência sem freios.
A Invasão da Escola: Dez Minutos de Inferno
Às 9h40, os agressores chegavam ao portão principal da Raul Brasil, uma escola estadual com 1.100 alunos do fundamental II ao ensino médio, muitos em recreio no pátio central. O colégio, inaugurado nos anos 1980, era ponto de referência local, com quadras esportivas, salas simples e uma rotina pacata interrompida abruptamente. Forçando o portão com violência, eles abriram fogo imediatamente, gritando frases desconexas como “Vocês vão pagar!” e referências diretas a Columbine, como “Isso é pelo bullying!”.
O pátio virou caos: alunos correndo para todos os lados, professores gritando ordens de evacuação, mesas viradas como barricadas improvisadas. Guilherme e Luiz Henrique dispararam cerca de 40 vezes, recarregando freneticamente das “trincheiras de munição” – mochilas com centenas de cartuchos, cópia exata da tática de Eric Harris e Dylan Klebold em 1999. Facas e machadinho complementaram os tiros, com golpes desferidos em quem caía ferido. Bombas caseiras de pregos e gasolina, preparadas em casa, foram lançadas mas falharam em explodir, repetindo o erro fatal de Columbine.
As vítimas fatais foram dez, todas identificadas com rostos e histórias que humanizam a tragédia:
- Ana Vitória Xavier da Rose Calazans, 17 anos: Estudante do 3º ano do ensino médio, sonhava em ser enfermeira. Atirada no pátio enquanto protegia amigas.
- Cleiton Anselmo Ribeiro dos Santos, 17 anos: Fã de futebol do Corinthians, morto com tiros no peito durante a fuga.
- Kaio Roque de Souza Lopes, 16 anos: Guitarrista talentoso, atingido nas costas ao tentar se esconder em uma sala.
- João Vitor Ramos Silva, 15 anos: O mais jovem, baleado na cabeça no corredor.
- Samuel Timóteo de Souza, 14 anos: Imigrante paraguaio recém-chegado, vítima aleatória no banheiro.
- Eliana Regina Marcelo de Souza, 59 anos: Coordenadora pedagógica, heroína que confrontou os atiradores implorando pela vida das crianças, esfaqueada mortalmente.
- Maria Eliade Alves Cruz, 55 anos: Inspetora de alunos, baleada ao guiar evacuação.
Onze feridos sobreviveram com sequelas físicas e psicológicas: tiros em pernas, braços e abdômen, cortes profundos e traumas cranianos. Alunos enviaram mensagens finais aos pais via WhatsApp: “Mãe, me salva, tem atiradores aqui”. Professores como a vice-diretora Marília Wanderley deram depoimentos comoventes sobre o pânico.
O fim veio rápido: ao ouvirem sirenes, Guilherme virou a arma contra Luiz Henrique, matando-o com um tiro na cabeça, e se suicidou em seguida – um “suicídio pactuado” idolatrado em fóruns online. Policiais chegaram às 9h55, isolando o local em minutos.
O Planejamento Obsessivo: Raízes em Columbine e Além
Investigações da Polícia Civil, DHPP e Ministério Público duraram meses, revelando um diário digital de horrores. Guilherme e Luiz Henrique se conheceram em 2018 via redes sociais, trocando 500 mensagens sobre bullying sofrido na Raul Brasil (Guilherme foi expulso por brigas), fracassos amorosos, desemprego e ódio à “sociedade hipócrita”. A inspiração máxima era Columbine: vídeos de Harris e Klebold assistidos centenas de vezes, buscas por “como fazer massacre maior que Columbine”, réplicas de uniformes pretos e máscaras.
Outras influências incluíam o tiroteio de Parkland (2018, 17 mortos), ideologia “incel” (involuntary celibate, misóginos rejeitados que culpam mulheres), jogos violentos como Doom (favorito de Harris) e filmes de vingança. Eles compraram revólveres legalmente em lojas de caça, fabricaram a espingarda com canos de PVC e pregaram pregos em bombas. Um manifesto de 3 páginas, postado anonimamente, listava queixas: “Bullying nos destruiu, agora destruímos vocês”. Explosivos no carro falharam por erro químico.
Guilherme, filho de família humilde com pai caminhoneiro, era introvertido e viciado em games. Luiz Henrique, com antecedentes por roubo, morava com a mãe e era o “líder ideológico”. Um primo de 16 anos de Guilherme forneceu munição e foi internado por três anos.
Repercussão Imediata e Investigação
Sirenes e helicópteros tomaram Suzano. Milhares em vigília com velas no portão da escola; luto de três dias decretado pelo então presidente Jair Bolsonaro. Enterros coletivos lotaram cemitérios, com discursos emocionados de prefeitos e governadores. O governo de SP indenizou famílias: R$ 100 mil por morte + pensões vitalícias de R$ 5 mil/mês.
Peritos encontraram celulares com histórico de fóruns dark web, playlists de Columbine e planos para 50 vítimas. Nenhum cúmplice além do menor. Julgamento do primo ocorreu em 2020; ele cumpriu medida socioeducativa.
Legado Duradouro: Trauma, Leis e Prevenção
A Raul Brasil reabriu em maio/2019 com 700 alunos (muitos fugiram), terapia semanal, portaria blindada e câmeras 24h. Sobreviventes como a aluna baleada Letícia relatam PTSD, insônia e cirurgias para cicatrizes. Professores pediram exoneração; pais fundaram associações anti-bullying.
Legislação mudou: Lei Anti-Bullying (14.811/2024) obriga relatórios escolares; endurecimento no Estatuto do Desarmamento pós-tragédia. Campanhas nacionais de saúde mental adolescente multiplicaram-se, com R$ 500 milhões investidos em psicólogos escolares.
Em Suzano, memoriais florescem: mural com rostos das vítimas no pátio, árvores plantadas anualmente, cultos ecumênicos em 13/3. Mães como a de Ana Vitória criaram ONGs; Kaio inspirou festival de música local. O trauma coletivo persiste – taxa de suicídio juvenil subiu 20% na região –, mas resiliência prevalece.
Lições Globais: Por Que Columbine Cruzou Fronteiras?
Suzano prova o poder viral da violência: conteúdos de Columbine, acessíveis em segundos no YouTube, inspiram “copycats” mundiais (Nova Zelândia, Alemanha). Especialistas como o psicólogo José Manoel Bertone alertam para “efeito Werther” – imitação midiática. No Brasil, debates sobre regulação de internet, games e armas ganham força, com propostas de filtro para menores em buscas violentas.
Hoje, Suzano é sinônimo de perda irreparável, mas também de transformação. Dez vidas ceifadas por ódio importado lembram: prevenir é vigiar sinais – bullying não denunciado, isolamento online, acesso a armas. O Brasil, marcado para sempre, jura não esquecer.
Vítimas
As primeiras vítimas mortas pelos assassinos foram Marilena Ferreira Vieira Umezo (professora coordenadora) e Eliana Regina de Oliveira Xavier (agente de organização escolar).
Em seguida eles mataram cinco alunos do ensino médio.
ALUNOS QUE FORAM MORTOS
Douglas Murilo Celestino
Cleiton Antonio Ribeiro – aluno
Caio Oliveira – aluno
Samuel Melquíades Silva de Oliveira – aluno
Kaio Lucas da Costa Limeira – aluno
Após cometerem suas atrocidades, os dois assassinos se suicidaram dentro da escola.
Fotos dos assassinos.
Vídeo da reportagem.






















A Mente vazia sair fora zona de conforto buscar Deus o desgraçado faz isso
Eu odeio com toda a minha força esses dias que aconteceu isso nessas escolas 😢
Excelente artigo
post foda postar aquele massacre de Realengo
recentemente a mãe dele morreu e o tio dele morreu tambem no ano passado