A temporada de 1977 da Fórmula 1 começou sob um clima de renovadas rivalidades, avanços técnicos e a promessa de corridas emocionantes. No entanto, o segundo Grande Prêmio do ano, realizado em Kyalami, na África do Sul, em 5 de março, entrou para a história não por sua disputa esportiva, mas por um dos acidentes mais trágicos e inusitados já registrados na categoria.
O protagonista involuntário dessa tragédia foi o jovem piloto britânico Tom Pryce, de apenas 27 anos, considerado uma das maiores promessas do automobilismo europeu. Pryce corria pela equipe Shadow e vinha tendo uma atuação sólida naquele início de campeonato. Durante o GP da África do Sul, ele ocupava a segunda posição na corrida quando o inesperado aconteceu.
Na volta 22, o carro do italiano Renzo Zorzi, da equipe Wolf-Williams, parou na pista com um princípio de incêndio. Dois comissários de pista, entre eles o jovem Frederik Jansen van Vuuren, de apenas 19 anos, correram para o local para conter as chamas. Enquanto um deles usava um extintor com relativa segurança, Jansen van Vuuren, aparentemente sem comunicação clara com a direção de prova, atravessou a pista em alta velocidade carregando um pesado extintor de incêndio de metal.
Naquele momento, Tom Pryce se aproximava da cena em velocidade elevada, estimada em mais de 270 km/h, impossibilitado de desviar a tempo. O impacto foi brutal: o extintor colidiu diretamente com a cabeça do piloto, causando morte instantânea. O comissário também foi atingido com força letal e faleceu no local.
O carro de Pryce, agora sem controle, seguiu desgovernado por mais algumas centenas de metros antes de bater nas barreiras de pneus. A corrida só foi interrompida quando marshals perceberam que algo grave havia ocorrido. O corpo de Pryce permaneceu no cockpit até que a equipe de resgate chegasse ao local.
A comunidade da Fórmula 1 ficou profundamente abalada. Pryce era respeitado por colegas e engenheiros por sua determinação, talento e humildade. Era visto como um futuro campeão, capaz de desafiar nomes como Niki Lauda, James Hunt e Mario Andretti. Sua morte foi sentida como uma perda irreparável não apenas para a Shadow, mas para todo o esporte.
O acidente também provocou uma profunda reflexão sobre os protocolos de segurança envolvendo comissários de pista. Até então, os procedimentos para intervenção em situações de emergência eram precários, com pouca padronização e comunicação deficiente. O fato de um comissário ter entrado na pista sem garantia de que os carros estivessem sob controle expôs falhas graves no sistema de segurança da época.
Nos anos seguintes, a Fórmula 1 implementou mudanças significativas: criação de zonas de segurança mais rigorosas, uso obrigatório de rádios entre os comissários, melhor treinamento para intervenções em pista e, mais tarde, a introdução do Safety Car para neutralizar corridas em situações de risco.
A morte de Tom Pryce e de Frederik Jansen van Vuuren permanece como um dos momentos mais sombrios da história da Fórmula 1 — não apenas por sua violência, mas por seu caráter evitável. Ambos eram jovens em início de carreira, cujas vidas foram interrompidas por uma combinação de falhas sistêmicas e má sorte.
Hoje, Pryce é lembrado com respeito em seu país natal, no País de Gales, onde monumentos e homenagens mantêm viva sua memória. Na Fórmula 1, seu nome serve como lembrete constante de que, mesmo em uma era de velocidade e tecnologia, a segurança humana deve vir sempre em primeiro lugar.



