Chicago, 8 de setembro de 2017. Kenneka Jenkins, 19 anos, saiu de casa à noite dizendo à mãe que iria “dar uma volta rápida”. Era uma sexta-feira quente de fim de verão. Ela nunca mais voltaria viva.
A festa no Crowne Plaza
Kenneka foi a uma festa improvisada no 9º andar do hotel Crowne Plaza Chicago O’Hare, em Rosemont, subúrbio de Chicago. O quarto tinha sido alugado por amigos mais velhos. Havia cerca de 30 a 40 jovens, bebida alcoólica em abundância, som alto e transmissão ao vivo no Facebook.
Por volta das 23h30, Kenneka já parecia muito alterada. Amigos filmaram ela dançando, rindo e falando de forma confusa. Em um dos vídeos, ela aparece sentada no chão do quarto, com os olhos quase fechados.
À 1h13 da madrugada de sábado, ela pegou o celular de uma amiga para fazer uma ligação e disse que ia descer até o carro buscar algo. Foi a última vez que alguém do grupo a viu com vida.
As imagens das câmeras de segurança
As gravações do hotel mostram o que aconteceu em seguida, minuto a minuto:
- 03h20 – Kenneka aparece na recepção, sozinha, cambaleando fortemente.
- 03h27 – Ela entra no elevador e desce para o subsolo.
- 03h30 – Sai do elevador, anda pelos corredores de serviço, bate em portas de metal, parece perdida.
- 03h32 – Entra na cozinha industrial abandonada do hotel, que estava em reforma.
- 03h33 – Vira à direita, em direção ao grande freezer walk-in. A câmera não cobre o interior do freezer. Esse é o último registro dela com vida.
Ninguém a acompanhou. Ninguém a empurrou. Ela entrou sozinha.
O desaparecimento e a busca lenta
Por volta das 4h da manhã, amigos começaram a ligar desesperados para a mãe de Kenneka, Tereasa Martin. Ela correu até o hotel. Chegando lá, implorou para que a gerência mostrasse as imagens das câmeras e iniciasse uma busca. Segundo Tereasa, foi tratada com descaso. A polícia de Rosemont só começou a procurar de fato na tarde de sábado.
O corpo foi encontrado apenas 21 horas depois do último vídeo: na madrugada de domingo, 10 de setembro, às 00h48. Um funcionário abriu o freezer que estava desligado há semanas e encontrou Kenneka deitada de lado no chão, com apenas um sapato, o corpo congelado e coberto de gelo.
A autópsia e a causa oficial da morte
O laudo do médico-legista foi divulgado dois meses depois:
Causa da morte: hipotermia por exposição ao frio
Maneira da morte: acidente
Fatores contribuintes: intoxicação alcoólica + presença de topiramato (remédio anticonvulsivante) no sangue
Nível de álcool no sangue: 0,112% (acima do limite legal para dirigir)
Não havia sinais de violência, trauma sexual ou luta. Apenas um pequeno corte no pé, compatível com ter pisado em algo enquanto cambaleava.
As dúvidas que nunca morreram
Mesmo com o laudo oficial, o caso explodiu em teorias:
- Por que o freezer estava destrancado se o hotel tinha cadeados pendurados ao lado?
- Como ninguém ouviu ela gritar ou bater na porta?
- Por que a polícia demorou tanto para procurar?
- Amigos mentiram ou esconderam algo?
- Fotos do corpo vazadas mostravam o freezer sujo, com panelas velhas e gelo acumulado – parecia abandonado há anos.
Vídeos ao vivo da festa sumiram do Facebook. Algumas pessoas que estavam no quarto receberam ameaças de morte nas redes. A hashtag #JusticeForKenneka virou trend mundial.
O processo e o acordo milionário
Em 2018, a família entrou com uma ação de US$ 50 milhões contra o hotel Crowne Plaza, a empresa de segurança e o restaurante que usava a cozinha. Alegavam negligência grave: portas de freezer destrancadas, câmeras mal posicionadas e resposta lenta ao desaparecimento.
Em dezembro de 2023, dias antes do julgamento, as partes chegaram a um acordo extrajudicial: a família recebeu mais de 6,4 milhões de dólares. O valor exato foi mantido em sigilo, mas foi o suficiente para encerrar o caso sem que nenhum depoimento chegasse ao tribunal.
O legado
Kenneka Jenkins se tornou símbolo de várias coisas ao mesmo tempo: os perigos de festas com álcool e drogas para jovens, a lentidão de algumas autoridades em casos envolvendo pessoas negras, e como a internet pode transformar uma tragédia em um circo de teorias da conspiração.
O Crowne Plaza mudou protocolos de segurança, instalou mais câmeras e passou a trancar todos os freezers ociosos. Mas para a mãe de Kenneka, nada traz a filha de volta.
Oito anos depois, em 2025, o nome dela ainda aparece em vídeos novos no YouTube, TikTok e X. Alguns pedem justiça. Outros apenas repetem boatos. A verdade oficial continua a mesma desde 2017: foi um acidente terrível, trágico e evitável.
Kenneka entrou sozinha naquele freezer numa noite de setembro. E nunca mais saiu.














