Caso “La Sicaria”: jovem que foi linchada e queimada viva na Guatemala

Río Bravo, Suchitepéquez, Guatemala – 12 de maio de 2015

Uma jovem de 16 anos, identificada apenas como filha de um conhecido delinquente local, foi capturada e executada por uma multidão enfurecida em Río Bravo, no departamento de Suchitepéquez, a cerca de duas horas a oeste da capital guatemalteca. O incidente, filmado por testemunhas e rapidamente viralizado nas redes sociais, chocou o país e reacendeu debates sobre linchamentos e a falha do sistema de justiça em regiões marcadas pela violência e pela impunidade.

De acordo com relatos de moradores e autoridades locais, a adolescente participava de um assalto que terminou em homicídio. No dia anterior, ela estaria acompanhada de dois homens – possivelmente sicários a serviço de seu pai, que cumpre pena por múltiplos crimes – para cobrar uma dívida de um motorista de mototáxi. A vítima, Carlos Enrique González Noriega, de 68 anos, foi baleado e morto durante a ação. Os dois homens fugiram, mas a jovem foi interceptada em uma rua próxima, ainda portando uma pistola.

A multidão, formada por cerca de 25 pessoas, incluindo vizinhos e familiares da vítima, agiu antes da chegada da polícia. Vídeos amadores mostram a garota sendo arrastada, espancada com paus e pedras até sangrar profusamente, e depois imobilizada no chão. Gritos de “¡Fuego para la puta!” e “¡Más gasolina!” ecoam nas gravações, enquanto alguém a rocía com combustível e acende o fogo. Ela agoniza em chamas por minutos, implorando por misericórdia, sem que ninguém intervenha para salvá-la. A polícia chegou ao local apenas após o ocorrido, encontrando o corpo carbonizado.

O pai da jovem, preso em uma penitenciária guatemalteca, seria o mandante da operação, segundo investigações preliminares da Polícia Nacional Civil (PNC). A identidade completa da vítima não foi divulgada imediatamente, mas fontes locais a descreviam como uma adolescente de vida difícil, envolvida precocemente no crime organizado devido ao ambiente familiar. Os dois cúmplices homens foram capturados dias depois, mas o caso principal – o linchamento – permanece sob investigação da Ministério Público, que classificou o ato como homicídio coletivo.

Guatemala, um dos países mais violentos da América Latina segundo relatórios da ONU, registra taxas alarmantes de impunidade: apenas 6% dos homicídios resultam em condenações. Em 2015, o país enfrentava uma onda de linchamentos em áreas rurais, impulsionados pela desconfiança na justiça formal e pelo controle de gangues como a MS-13 e Barrio 18. Especialistas apontam que esses atos de “justiça pelas próprias mãos” perpetuam um ciclo de violência, afetando inocentes e culpados por igual. “Eles são tão assassinos quanto os que mataram o taxista”, comentou um internauta em fóruns locais, ecoando o dilema moral que divide a sociedade guatemalteca.

O vídeo do linchamento, inicialmente compartilhado em plataformas como Facebook e YouTube, foi removido por violar políticas de conteúdo gráfico, mas continua circulando em sites underground. Organizações de direitos humanos, como a Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), condenaram o episódio como um exemplo extremo de falha estatal, exigindo reformas urgentes no sistema penitenciário e policial. Até hoje, o caso serve como símbolo dos horrores da violência endêmica na região, onde mais de 3 mil homicídios anuais escapam à punição.

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