Quem eram Raymond Belknap e James Vance
Raymond Eugene Belknap (nascido em 24 de outubro de 1967) e James Alan Vance (nascido em 12 de outubro de 1965) eram dois jovens de Sparks/Reno, Nevada, Estados Unidos. Ambos vinham de famílias desestruturadas, tiveram infância marcada por violência doméstica, alcoolismo dos pais e abandono escolar precoce.
- Ray Belknap tinha 18 anos, havia largado o ensino médio, trabalhava esporadicamente em obras e era descrito como extremamente depressivo, com histórico de abuso de álcool e maconha desde os 13 anos.
- Jay Vance tinha 20 anos, também abandonara a escola, já havia tentado suicídio antes (cortando os pulsos), sofria de depressão crônica, consumia álcool e drogas diariamente e vivia em condições precárias.
Os dois eram melhores amigos, passavam a maior parte do tempo juntos bebendo, fumando maconha e ouvindo heavy metal, especialmente Judas Priest, Ozzy Osbourne e AC/DC.
O pacto de suicídio – 23 de dezembro de 1985
Na tarde do dia 23 de dezembro de 1985, véspera de Natal, Ray e Jay passaram várias horas em casa consumindo grandes quantidades de cerveja e maconha. Escutaram repetidamente o álbum Stained Class (1978) do Judas Priest, com foco especial na música “Better by You, Better Than Me” (cover do Spooky Tooth).
Por volta das 18h30, completamente intoxicados, decidiram fazer um pacto de suicídio. Pegaram uma espingarda calibre 12 serrada que pertencia ao padrasto de Jay e foram até o playground de uma igreja luterana na Prater Way, em Sparks.
A sequência foi a seguinte:
- Raymond Belknap encostou o cano da espingarda sob o queixo e puxou o gatilho. Morreu instantaneamente, quase decapitado.
- Três minutos depois, James Vance fez o mesmo. A espingarda escorregou no momento do disparo; o tiro entrou pelo queixo, saiu pela testa e destruiu completamente o rosto (nariz, bochechas e olhos). Mesmo assim, ele sobreviveu ao impacto inicial.
Jay foi encontrado ainda vivo pelos policiais e levado às pressas para o hospital Washoe Medical Center. Passou por várias cirurgias, ficou com o rosto grotescamente desfigurado e perdeu grande parte da capacidade cognitiva e motora.
A vida de James Vance após o incidente
Nos três anos seguintes, Jay viveu em sofrimento extremo:
- Ficou cego de um olho, parcialmente cego do outro, perdeu o olfato, paladar e grande parte da fala.
- Tornou-se dependente de morfina para dor crônica.
- Entrava e saía de instituições psiquiátricas.
- Tentou suicídio novamente pelo menos duas vezes.
Em 29 de novembro de 1988, três anos depois do pacto, Jay entrou em coma por overdose acidental/intencional de metadona e analgésicos. Morreu no mesmo dia, aos 23 anos.
O processo contra o Judas Priest (1986-1990)
Em 1986, as famílias de Ray Belknap e Jay Vance entraram com uma ação civil contra a banda Judas Priest e a gravadora CBS Records pedindo 6,2 milhões de dólares de indenização.
A tese da acusação:
- A música “Better by You, Better Than Me” continha mensagens subliminares (inaudíveis conscientemente, mas captadas pelo subconsciente).
- Quando tocada ao contrário (backmasking) ou em certos trechos, era possível ouvir frases como “Do it”, “Try suicide”, “Let’s be dead”, “Sing my evil spirit” e “Fuck the Lord, kill yourself”.
- Essas mensagens teriam hipnotizado ou forçado os jovens a se matarem.
O julgamento ocorreu em julho e agosto de 1990, em Reno, Nevada, e durou cinco semanas. Foi um dos primeiros casos nos EUA a discutir responsabilidade de artistas por supostas mensagens subliminares.
Pontos principais do julgamento:
- Os advogados das famílias contrataram “especialistas em áudio” que afirmavam ter isolado as mensagens.
- A defesa do Judas Priest demonstrou que os sons eram apenas respirações, overdubs vocais e efeitos de estúdio (Rob Halford chegou a tocar guitarra no tribunal para provar que os “sons” eram normais na gravação).
- Psicólogos e psiquiatras testemunharam que os jovens já tinham histórico longo de depressão, abuso de substâncias e ideias suicidas antes mesmo de conhecerem a música.
- A própria gravação original da CBS foi analisada em estúdio e nada de intencional foi encontrado.
Em 24 de agosto de 1990, a juíza Priscilla Owen rejeitou completamente a acusação, declarando que não havia provas científicas de que mensagens subliminares pudessem forçar alguém ao suicídio e que a responsabilidade era exclusivamente dos jovens e de seus problemas pessoais.
O Judas Priest saiu vitorioso, mas gastou cerca de 250 mil dólares em defesa. A CBS teve que pagar 40 mil dólares de multa por descumprir ordens judiciais durante o processo.
Consequências e legado
- O caso se tornou símbolo do “pânico satânico” dos anos 80 nos EUA, junto com os processos contra Ozzy Osbourne (“Suicide Solution”) e as acusações ao Dungeons & Dragons.
- Inspirou o documentário Dream Deceivers: The Story Behind James Vance vs. Judas Priest (1992), considerado um dos melhores registros sobre o tema.
- James Vance aparece no documentário gravado em 1991, poucos meses antes de morrer, com o rosto completamente destruído, falando com dificuldade e ainda culpando parcialmente a banda.
- Rob Halford sempre tratou o caso com tristeza, dizendo que sentia pena dos garotos, mas que a música não podia ser responsabilizada pelos problemas deles.
- Em 2025, a banda The Residents lançou a ópera Doctor Dark, que reconta a história de forma ficcionalizada, com Jay Vance como o personagem “Mark”.
Resumo final
Raymond Belknap morreu aos 18 anos em 23 de dezembro de 1985.
James Vance sobreviveu mutilado e morreu aos 23 anos em 29 de novembro de 1988.
O Judas Priest foi absolvido em 1990.
O caso permanece como um dos episódios mais trágicos e controversos da história do heavy metal, mostrando como a combinação de depressão grave, abuso de substâncias e desespero pode levar a consequências irreversíveis — independentemente de qualquer música.
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Um caso possuído por morbidez, grotescalidade e grandiosidade, desde o início o Heavy Metal tem sido considerado como preceptor das desgraças inerentes a humanidade, no entanto, mais uma vez os lacradores foram publicamente e judicialmente refutados e foram compelidos a engolir o vômito falacioso.
Outrossim, ainda que os jovens tenham sido erroneamente corrompido por suas próprias escolhas patéticas em relação ao uso de substâncias corruptivas, o fato de ouvirem subgêneros do Metal evidência somente a exponencialidade niilista da vida, sem que qualquer ramificação do Metal seja intrinsecamente o epicentro da desgraça.
Ademais, o reles humano que a entidade Morte não abraçou não cumpriu com o dito pacto, afinal, muitos supõem que a segunda vez parametriza a sorte; No entanto ele preferiu um nível quântico de agonicalidade ao invés de invocar novamente o Ceifeiro.