O Atirador Racista de Buffalo: Uma Tragédia que Marcou os EUA

Buffalo, Nova York – Uma Retrospectiva Completa do Ataque ao Supermercado Tops em 2022 e Seus Desdobramentos Até 2025

Em 14 de maio de 2022, a cidade de Buffalo, no estado de Nova York, foi palco de um dos tiroteios em massa mais chocantes e motivados por ódio racial da história recente dos Estados Unidos. Um jovem branco de 18 anos, Payton S. Gendron, invadiu o supermercado Tops Friendly Markets, localizado em um bairro predominantemente negro, e abriu fogo, matando 10 pessoas e ferindo outras três. O ataque, transmitido ao vivo pela internet, expôs as feridas profundas do racismo sistêmico, da radicalização online e do fácil acesso a armas de fogo no país. Mais de três anos após o incidente, o caso continua a reverberar nos tribunais, com debates sobre pena de morte e questões de justiça racial.

O Dia do Ataque: Cronologia de um Massacre Planejado

O tiroteio ocorreu por volta das 14h30, horário local, em um sábado movimentado. Gendron, residente em Conklin, uma pequena cidade a cerca de 320 quilômetros de Buffalo, dirigiu por horas até o local escolhido deliberadamente. Vestido com equipamento tático militar – incluindo colete à prova de balas, capacete e uma câmera acoplada para gravar o ataque –, ele carregava um fuzil semiautomático estilo AR-15, modificado para aumentar sua letalidade. A arma havia sido adquirida legalmente, explorando brechas nas leis de controle de armas de Nova York.

O atirador iniciou o massacre no estacionamento do supermercado, atirando em quatro pessoas e matando três delas instantaneamente. Em seguida, entrou na loja e continuou disparando, alvejando clientes e funcionários. No total, foram cerca de 50 tiros disparados em poucos minutos. Um dos momentos mais heroicos do dia envolveu Aaron Salter Jr., um segurança aposentado da polícia de Buffalo, que confrontou Gendron com sua arma de serviço. Salter acertou o atirador, mas o colete à prova de balas o protegeu, e ele revidou, matando o segurança.

A polícia chegou rapidamente ao local após chamadas de emergência. Gendron se rendeu sem resistência, largando a arma após negociações breves com os oficiais. Ele foi preso imediatamente, e o ataque foi encerrado. Das 13 vítimas baleadas, 11 eram negras, confirmando o caráter racista do crime.

As Vítimas: Vidas Perdidas em um Ato de Ódio

As 10 vítimas fatais eram membros comuns da comunidade negra de Buffalo, muitos deles idosos ou em rotinas cotidianas de compras. Seus nomes e histórias humanizam a tragédia:

  • Aaron Salter Jr., 55 anos: Segurança do supermercado e herói local, pai de três filhos e avô.
  • Ruth Whitfield, 86 anos: Avó devota, conhecida por cuidar de sua família e comunidade.
  • Celestine Chaney, 65 anos: Mãe e avó, sobrevivente de um aneurisma cerebral, que estava comprando morangos para fazer um bolo.
  • Roberta Drury, 32 anos: Jovem que ajudava na loja de seu irmão e era conhecida por sua bondade.
  • Andre Mackneil, 53 anos: Pai dedicado, comprando um bolo de aniversário para seu filho de 3 anos.
  • Katherine Massey, 72 anos: Ativista comunitária e escritora, envolvida em causas locais como educação e meio ambiente.
  • Margus Morrison, 52 anos: Funcionário do supermercado e pai de três filhos.
  • Heyward Patterson, 67 anos: Diácono de igreja e motorista voluntário para idosos.
  • Geraldine Talley, 62 anos: Mãe e avó amorosa, conhecida por sua culinária.
  • Pearl Young, 77 anos: Professora aposentada e missionária, que gerenciava um banco de alimentos.

Os três feridos sobreviveram, mas carregam sequelas físicas e emocionais. O ataque não só ceifou vidas, mas devastou famílias inteiras, com relatos de luto coletivo que ecoam até hoje na comunidade de East Side, em Buffalo.

O Perfil do Atirador: Radicalização Online e Ideologia Extremista

Payton Gendron era um estudante de engenharia na SUNY Broome Community College, descrito por conhecidos como quieto e isolado. No entanto, por trás dessa fachada, ele se radicalizara em fóruns online extremistas, como 4chan e 8kun. Horas antes do ataque, postou um manifesto de 180 páginas detalhando sua ideologia supremacista branca, inspirada na teoria conspiratória da “grande substituição” – a noção falsa de que populações brancas estão sendo “substituídas” por imigrantes e minorias.

Investigações revelaram que Gendron planejou o ataque meticulosamente. Ele visitou o supermercado dias antes para contar o número de clientes negros e brancos, considerando alternativas como igrejas ou escolas. O manifesto citava influências de outros atiradores em massa, como os de Christchurch (Nova Zelândia) e El Paso (Texas). Além disso, recentes revelações de promotores federais indicam que, minutos antes do tiroteio, Gendron notificou mais de 60 usuários no Discord sobre suas intenções, destacando o papel das redes sociais na propagação do ódio.

Em 2021, Gendron já havia ameaçado um ataque em sua escola secundária, levando a uma internação psiquiátrica involuntária. Apesar disso, ele não foi diagnosticado com doenças mentais graves e pôde adquirir armas legalmente.

Consequências Imediatas: Reações e Reformas

O tiroteio provocou uma onda de condenação nacional e internacional. O presidente Joe Biden visitou Buffalo dias após o incidente, classificando-o como “terrorismo doméstico”. A governadora de Nova York, Kathy Hochul, impulsionou leis mais rígidas para controle de armas e monitoramento de conteúdo extremista online. A plataforma Twitch, onde o ataque foi transmitido ao vivo, removeu o vídeo em minutos, mas enfrentou críticas por falhas na moderação.

A comunidade de Buffalo se uniu em vigílias e memoriais. O supermercado Tops foi reformado e reaberto em julho de 2022, com um memorial para as vítimas. No entanto, o trauma persiste, com relatos de aumento na ansiedade e no racismo velado na região.

O Processo Legal: Da Condenação Estadual à Busca pela Pena de Morte Federal

Gendron enfrentou julgamentos em níveis estadual e federal. No tribunal estadual de Nova York, ele se declarou culpado em novembro de 2022 por 10 acusações de homicídio em primeiro grau, além de tentativas de homicídio e posse de armas. Em fevereiro de 2023, foi condenado à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional, uma sentença que incluiu momentos emocionantes, com familiares das vítimas confrontando-o diretamente.

O caso federal, no entanto, busca a pena de morte por crimes de ódio. Em julho de 2022, uma grande júri federal indiciou Gendron em 27 acusações, incluindo 10 de crimes de ódio resultando em morte. Em janeiro de 2024, promotores anunciaram a intenção de pedir a execução.

Desdobramentos recentes intensificaram o drama judicial. Em julho de 2025, uma nova data para o julgamento federal foi marcada. Em agosto de 2025, a defesa de Gendron tentou anular as acusações, alegando que o grande júri era “demasiadamente branco” e não representava a diversidade demográfica, o que violaria princípios de justiça. No entanto, em dezembro de 2025, o juiz federal Lawrence Vilardo negou a moção, afirmando que as disparidades citadas não configuravam injustiça ou viés sistemático. O julgamento prossegue, com debates sobre questionários para jurados e a possibilidade de pena capital.

Legado e Reflexões: Uma Luta Contra o Ódio Persistente

Mais de três anos após o massacre, o caso de Buffalo serve como lembrete sombrio dos perigos do extremismo online e da violência racial nos EUA. Ele impulsionou discussões sobre regulação de armas, moderação de conteúdo digital e equidade racial no sistema judiciário. Organizações como a NAACP e a Anti-Defamation League continuam a advogar por mudanças, enquanto a comunidade de Buffalo trabalha para curar suas feridas através de programas de apoio psicológico e iniciativas antirracistas.

Enquanto o julgamento federal se aproxima, o mundo observa se a justiça trará algum fechamento às famílias afetadas. O ataque ao Tops não foi apenas um ato isolado, mas um sintoma de divisões profundas que exigem ação coletiva para serem superadas.

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Comments: 1Publics: 51Registration: 06-12-2025

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