O assassinato com motosserra que chocou o México: Félix e Bernabé Gámez

Em setembro de 2011, circulou pela primeira vez na internet uma história que rapidamente se tornou parte do folclore sombrio da violência relacionada ao narcotráfico no México: a suposta execução de Félix Gámez García e seu tio, Bernabé Gámez Castro, em Sinaloa, com o uso de uma motosserra. A brutalidade descrita — rara, simbólica e cinematográfica — transformou o caso em um dos mais citados em listas virais, vídeos e debates sobre a crueldade dos cartéis.

Segundo os relatos que se espalharam globalmente, Félix, um jovem de 26 anos residente nos Estados Unidos, estaria de visita a familiares em Sinaloa quando, junto com seu tio Bernabé, teria sido surpreendido por homens armados. A execução teria sido filmada e posteriormente divulgada como um recado de intimidação — com a motosserra usada não apenas como arma, mas como símbolo de domínio e terror.

A narrativa ganhou contornos quase lendários, aparecendo em documentários alternativos, podcasts e conteúdos de entretenimento sobre o submundo do narcotráfico. Muitas vezes referido como “o assassinato da motosserra em Sinaloa”, o episódio foi associado a cartéis conhecidos pela extrema violência, como os Zetas, que de fato já utilizaram métodos semelhantes em crimes reais.

No entanto, apesar da ampla circulação da história, não há registros oficiais que confirmem a identidade das vítimas, o local exato do crime ou a autoria do ataque. Nenhum boletim policial, reportagem de veículos jornalísticos mexicanos reconhecidos ou comunicado do Ministério Público do estado de Sinaloa menciona os nomes de Félix Gámez García ou Bernabé Gámez Castro em conexão com um homicídio envolvendo motosserra naquele período.

Especialistas em segurança e pesquisadores da violência no México observam que, embora o uso de motosserras tenha ocorrido em crimes reais — especialmente entre 2006 e 2012, no auge da guerra entre cartéis —, muitas histórias foram amplificadas, distorcidas ou até fabricadas para gerar impacto midiático. Nesse contexto, o caso dos Gámez pode representar menos um fato isolado e mais um símbolo da banalização da brutalidade no imaginário coletivo sobre o narcotráfico.

A ausência de provas concretas — como fotos, registros forenses ou julgamentos — levanta dúvidas sobre a veracidade dos detalhes narrados. Ainda assim, a persistência da história revela algo profundo: a forma como a sociedade absorve, transforma e às vezes mitologiza a violência extrema quando ela escapa do controle estatal e invade o cotidiano.

Hoje, o nome de Félix e Bernabé permanece vivo não nos arquivos judiciais, mas nos algoritmos das redes sociais, nos vídeos de “crimes reais” e nas discussões sobre os limites entre verdade e ficção no tempo da desinformação.

Sejam reais ou não, suas histórias ecoam como um alerta: em zonas de conflito onde a justiça falha, até os mortos podem se tornar personagens de uma narrativa maior — muitas vezes mais cruel do que a própria realidade.

Leave a Reply